COMENTÁRIO
Ao publicar, em 2001, uma história para crianças escrita muito tempo antes, José Saramago passa a integrar o conjunto, cada vez mais amplo, de autores que, esporádica ou regularmente, escrevem para um público definido, sobretudo, por uma faixa etária específica. Mas A Maior Flor do Mundo, respeitando os principais paradigmas do género – conto infantil –, ultrapassa os limites impostos pela sua condição de texto breve, de linguagem acessível, dominado pela fantasia e pelo maravilhoso e assume-se como reflexão (às vezes, de índole quase metaliterária) sobre a infância e a criança, sobre a literatura infantil em geral e sobre o conto em particular. Integra-se, ainda, no âmbito destas reflexões, a insistência em considerar-se uma “não-história”, ou, talvez, um protótipo de uma história futura (ou várias, tantas quantas os leitores do livro), ou, ainda, um resumo de uma história possível, elementos sintomáticos de uma “humildade” do narrador que perpassa toda a narrativa, a que dá o título ao livro, e que narra as aventuras de um menino com o objectivo de salvar uma flor.
Merecem especial destaque as geniais ilustrações de João Caetano que multiplicam as leituras possíveis do texto e interagem com ele com especial pertinência, propondo um olhar mais atento e mais crítico sobre a realidade recriada. | Ana Margarida Ramos |